Tag: memoria

  • As diferentes concepções de memória

    As diferentes concepções de memória

    Quando se fala em reabilitação neuropsicológica da “atenção” e da “memória”, usa-se uma conotação distinta destes conceitos do que a utilizada pela psicologia cognitiva.

    Funções psicológicas, quando entendidas como algo algo aprendível e alterável pela experiência, articulam-se com concepções contextualistas e histórico-culturais de processos psicológicos. Por exemplo, melhorar a “atenção” ou “memória” pode ser ensinar estratégias através da modelação de habilidades como apontar, re-ensaiar, ou recordar um objeto similar.

    Funções psicológicas, tal como entendido pela psicologia cognitiva, são abstrações teóricas (que aparecem na forma de fatores latentes ou disposições) cujas propriedades explicam o desempenho do paciente em alguma tarefa. Encaixam-se aqui construtos como velocidade de processamento, capacidade de armazenamento, e fluência verbal. Tais construtos variam com a idade e com a integridade do sistema nervoso do paciente, mas não são tradicionalmente pensadas como afetadas por experiências no curto prazo, tal como uma intervenção pontual. São antes entendidas como capacidades relativamente estáveis do paciente.

    Ter uma “boa memória” tem portanto duas conotações: a da psicologia cognitiva (fator comum de um desempenho bom que uma pessoa tem em duas ou mais tarefas de memória); e também a da psicologia histórico-cultural: a conotação de uma pessoa que domina múltiplas estratégias mnemônicas assimiladas a partir de sua cultura (faz associações com outros conteúdos, usa do gesto ou da fala para facilitar a recordação posterior). A reabilitação cognitiva usa o termo principalmente na segunda conotação, enquanto que a avaliação neuropsicológica está usando o termo na primeira conotação.

    Esta é uma distinção importante de ser feita, pois o uso indiscriminado pode facilmente produzir contradições: afinal, a memória pode ser melhorada? A resposta é sim ou não, dependendo da definição conceitual da qual se parte. A memória como fator comum de desempenho, talvez não; a memória, se entendida como entendida como “estratégias mnenônicas”, com certeza.